Da conceição do tempo perdimos as antítesis: fim de semana deixou de opôr-se a semana e pudemos, por fim, viver um dia atrás de outro; mudamos a ordem das enumerações: pequeno almoço, almoço, lanche e ceia foram virando e dando voltas até que a comida aconteceu com a fome. O dia voltou a contar-se pela luz e a noite pela escuridão, mas os dois viraram silêncio e ocultaram todas as onomatopeias. Os paralelismos tomaram conta de nós e todo começou a ser "como aquela vez", só que aquela vez nem sequer éramos vivos e o paralelismo tornou então apenas um símbolo. E de símbolos enchemos as janelas.
Entretanto, todos nós andamos na búsqueda da metáfora perfeita que dé sentido. A vida, no fundo, não é apenas uma retórica vazia.