Não acredito na beleza exacta das cousas. Nem cânones clássicos nem modernos. Não acredito na beleza emoldurada segundo um plano de perfeição.
A beleza em que acredito deixa-te apenas pendurado nesse instante. Trapassa qualquer percepção dos sentidos pra ir tocar-te mais adentro. A beleza em que acredito é uma carícia no coração.
Acredito que existe. E essa sua existência permite a minha. Nada neste mundo seria aceitável sem ela. Deste mundo asfixiante e pavoroso só nos salva a beleza onde ela está: na folha, na água, na lua, na canção, na poesia.
Há um barulho contínuo e cheio de luzes a ocupá-lo tudo. Não é apenas o som de vozes abafadas. É um ruído luminoso que ocupa o cérebro aos poucos. Despraza tudo, vai ocupando os cantos todos apesar da tua resistência. Lutas com força por fechar olhos e ouvidos. Esperas que esse gesto infantil te poupe do caos. Mas isto já não é brincadeira. Deixou de ser brincadeira muitos anos atrás e não percebeste. Na verdade, ninguém percebeu. Essa condição de massa não te consola.
Às vezes paras, com os pés bem fortes na terra, com a ilusão do silêncio e da quietude. É apenas uma fracção de segundo acreditando. Uma fracção de segundo em que és feliz.
É uma ilusão que não tarda em esvaecer. Com tanta falicidade que até machuca. Apenas uma fracção de segundo de felicidade tão frágil.
Chorarias. Mas o barulho volta a estar em toda a parte e não importa o quanto grites, o quanto reclames. Agora é tudo luzes e som.