Uma gota de saliva para apagar uma língua de fogo, um abano de penas para mudar a direcção dum ciclão, a mão da criança segurando a terra que treme por cima dos 8.9, uma colher de sobremesa para conter um tsunami... Assim estamos nós, brincando a ter o poder, a mandar sobre a terra e os deuses, fazendo de conta. Agora tu eras o chefe e fazias fábricas e construias nas beiras dos rios e comias espaço às ondas do mar, agora fazemos de conta que os perigos não existem e levantamos infernos contidos em aço, segurados por cheminés para os azares. Fazemos de conta. Afinal há tanto lugar para onde olhar que ninguém consigue enxergar. Entretanto, há uma mapoula no jardim do vizinho que cresce indiferente. Demora dias em desabrochar, vai pedindo licença a todo o que é mundo e dobrega-se humilde, não estorva, não se impõe, não machuca. Mas as suas pétalas vermelhas afirmam a vida, o seu alento é a nossa esperança.