Aqui estou de novo, com a minha velha pele tão querida, deixando-me levar pola nostálgia e aprendendo a amar novas palavras e a resgatar as antigas. Aprender a amar "destino" aos poucos, perdendo-lhe o medo e os preconceitos. Aprendendo a amar "diário" com a rotina das felicidades minúsculas. Resgatando "fe" sem pôr-lhe mais companhia que eu própria.
Tudo tão incerto como a vida. Agradeçamos a incerteza.
Tudo agarrado ao estômago sem deglutir, apenas colado a ele. Trago um fio de seda e atiro dele pa-se-ni-nha-men-te. Nada. São mais de sessenta metros de suavidade no meu estômago e nada.Nada se agarra. Por isso experimento com um arame de espinho.
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
que chega a fingir que é dor
a dor que deveras sente.
Pessoa ("Autopsicografia")
Apenas força. E um bocado de felicidade para enfrentar o dia. Se não fosse forte, se não fosse dura agora já estaria rendida. Quando me rinda, caerei com toda a equipa. Herdarei do meu pai o silêncio, essa maneira de passar pola vida sem molestar. Talvez também herde a sua maneira de morrer. Só e sem pedir ajuda, só e sem conforto. Desculpade, apenas passava por aqui. Assim estou, passando por aqui.
Tudo o que era sólido se torna líquido. E vice-versa. Fazer anos tem essa incoerência, o tempo que passa é cada vez mais consistente, mais físico, mais tangível. O presente cada vez mais líquido.