Olham-se frente a frente. Estám de pé, descansando o peso primeiro na perna esquerda e depois na direita. Com umha sincronizaçom tam perfeita que parecem atletas. Nom sabem quanto tempo levam assim, olhando-se. Nom o sabem porque o tempo nom significa nada. Nom existem, dim na física. Nem o tempo nem o espaço. Porque essa distáncia de olhar-se frente a frente tampouco existe.
Se param um bocadinho a pensar, poderiam acreditar em que é um desafio. As olhadas fixas, quase sem pestanejar, duas lágrimas que denunciam a comichom do esforço polos olhos abertos, a teimosia de ficar ali de pé, frente a frente, sem ceder ao cansaço ou ao aborrecimento.
Porque o tempo nom existe. Se existisse teriam um passado. Já se sabe, quem nom tem um passado quando o tempo existe? E esse passado talvez fosse umha pingueira na memória deixando as suas marcas. Umha pingueira fazendo erosom até modelar os corpos, as imagens, as expectativas, o futuro...
Por isso podem alegrar-se. Porque o tempo nom existe, segundo a física.
Numha decisom inesperada, abrem a boca para falar-se, em simultáneo. É tal a surpresa que nom conseguem fazer sair a voz. Esboçam um sorriso. E ao pensá-lo nesses termos “esboçam um sorriso” fam-se tanta graça que rim em alto, com uma gargalhada. Porque efectivamente o sorriso é o bosquejo que inicia a gargalhada.
Em pouco tempo voltam a calar. Por algum motivo escolhem o silêncio. Falam-se com a pele, como se fossem bebés e essa fosse a primeira carícia que se dam. Por umha vez nom existe a palavra.
Mas falam-se. Com a pele, com o riso. Nom com o riso apertado esse que dói apenas ao olhá-lo. Falam-se com um riso que ensina os dentes, embora estejam amarelos da nicotina e da espera.
Tocam-se com o alento, desenhando em bafo carícias e pele. Sopram sobre o corpo e por um momento a olhada dança polo pêlo, por cada um dos milhons de pêlos sobre a carne.
Estám de pé, frente a frente, olhando-se como se acabassem de nascer e nunca tivessem olhado nada antes. Dam um passo cara atrás e muda a perspectiva. Depois dous cara adiante. Umha última olhada ao corpo nu. Nada. Por um impossível segundo –porque o tempo nom existe- estranham-se. Talvez procuram algo no seu corpo. Aproximam-se mais um passo até quase tocar-se e começam o trabalho científico. Cada centímetro de pele, cada milímetro é investigado minuciosamente. Nada. Depois de tanto tempo, nada? Apenas a brancura da pele e a humidade. Certo. Nom o precisam. Nom necessitam nengumha marca de amor. Apenas amor. Sem marca.