Sexta-feira, 14 de Julho de 2006
A espera não é apenas desespero. Existe um rito em esperar. Pelejar com uma mesma, aguentar um bocado mais sem olhar o relógio, não consultar o telemóvel por se há mensagens. A espera é um ritual. Tirar o caderno do bolso, reler a escritura doutras esperas, anotar as reacções. Agora é fome, agora pica o nariz, agora ergo a vista e há uns olhos observando as minhas mãos, algo tem de estranho estar numa sala de espera de hospital escrevendo num caderno branco.
Nalgum momento, pode ser uma hora, três dias ou uma vida depois, a espera acaba.
A esperança é um ritual.
Quinta-feira, 13 de Julho de 2006
Entre a excitação e a tranqülidade, a minha vida decorre, corre ou caminha. Habito a excepcionalidade, o desequilíbrio, a improvisação. E pratico a vaidade com um computador e uma página que consultam as amigas. Criando a ficção de que podem seguir o decorrer da minha vida com um bocado de imaginação e as três linhas que me dedico três ou quatro vezes ao mês. Gosto das ficções, gosto do pacto que se gera, gosto de acreditar e fazer acreditar numa mentira que todas as pessoas conhecem.
E hoje tenho vontade de enviar-lhes um abraço, eles e elas sabem para quem.
Sábado, 8 de Julho de 2006
Há poucas coisas mais excitantes que sentir outra vez a necessidade de escrever. Sentir as cócegas no estômago, ter a ideia e parar qualquer coisa (repito, qualquer coisa) que estejas fazendo para pôr-te irremediavelmente a escrever. Sair à rua com o caderno e a caneta tremendo no bolso, sentar na praça mais bonita do mundo e deixar que saia tudo, sem reparar nas gralhas nem nos adjectivos mal colocados.
Depois, qualquer coisa pode suceder, mesmo arrancar as folhas e deitar tudo no lixo.
Quarta-feira, 5 de Julho de 2006
Subo às alturas primeiro um passo e depois outro, não sou consciente mas chego ao topo. E agora, como é que se desce?