O que tenho: uma grande gaveta dentro duma mesa de cabeceira. Abre-se de vez em quando para deixar entrar visitantes e objectos novos, que se movem sem ordem nem controlo. As outras gavetas desta mesa de cabeceira estão igualmente habitadas, abrem-se da mesma maneira e os seus ruídos contaminão a minha. Ao nosso arredor, outras gavetas, outras mesas de cabeceira, outros armários...
Mas alguma vez volto à casa de dimensões naturais. De vez em quando posso escutar a lenha que arde na cozinha, um corvo distante que reclama o seu alimento, um silêncio gigante interrumpido umas poucas veces pola prosaicidade dum frigorífico que começa a funcionar. Um tempo enorme que se estira e se estira permitindo aborrecer-me. E sobretudo, muito espaço limpo e calmo na minha cabeça.