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Sexta-feira, 6 de Novembro de 2015

Diário de viagem

14/07/2015

Ainda que repetisse mil vezes a mesma viagem não me acostumaria nunca a esta ferida da cor. Essa fenda tão invisível como certa que separa aquelas quatro raparigas perfeitas na sua brancura, das duas mulheres pretas que, em uma alegria popular e alta falam no ónibus das conversas de facebook.

Nunca me acostumarei a esse mundo que coloca as perfeitas e inúteis moças brancas por cima das mulheres pretas que arrumam a sua casa. E ainda permite que riam na sua falsa superioridade da linguagem errada e colorida com que enchem o ónibus que compartimos de volta da praia.

Mas pior me acostumo a ser também uma rapariga perfeita e branca. Alinhar com as que rim embora não ache graça nenhuma. Alinhar do lado das que tenhem medo. Mais difícil sentir que essa ferida é tão funda que farám falta toneladas de concreto para apagá-la.

Não me conformo. Quero meter os meus braços bem no fundo dos lodos e jogá-los na cara de todas as raparigas brancas e perfeitas. Também na minha.

 

18/07/2015

Instalada no estranhamento vejo tudo com olhos de criança. Tudo é novo e os sentidos não são suficientes. Quando algo me magoa choro, como criança. Também a felicidade me alcança de uma forma simples. Na intensidade em que a pessoa amada vive o retorno. No carinho das pessoas que vou conhecendo e oferecem generosos abraços e beijos. Na vista da baía que resiste ainda à urbanização e se apresenta majestosa ante a minha olhada nova, de criança. No concerto intenso e concentrado, formoso. Tudo muito emocionante.

Às vezes preciso uma pausa. Só respirar e lembrar quem sou eu. Embora neste momento não há um eu a que agarrar-se.

 

19/07/2015

Na viagem tudo é presente. Às vezes o passado assoma como uma fraca ferramenta de comparação. Mas não há comparação possível e o passado esfuma. O futuro é apenas um tempo verbal em que formulas breves interesses práticos: "Vou sair comprar pão" "Amanhã iremos no Rio". Pronto, não há futuro além de amanhã.

Essa nova forma de configurar o tempo deixa-te entre o fascínio e a felicidade. A memória é só uma fonte de histórias divertidas com que encher as conversas. Os planos de futuro, um vício longínquo que não compreendes.

 

29/07/2015

A renovação. Parece que a limpeza do corpo ia acompanhada da limpeza de espírito. Na água transparente do rio viu as várias gerações de índios que desfrutaram de aquele lugar sem interrupções. Imaginou a felicidade de homens e mulheres que chegavam lá depois de longas caminhadas baixo um sol ardente. Viu, como se fizesse parte das suas memórias, as crianças brincando baixo a água da cachoeira. E foi feliz.

Esqueceu que aquele mundo já não existia e, muito provavelmente, não fosse possível nunca mais. Esqueceu das imagens arrasadas sob toneladas de progresso e ambição. Esqueceu o pessimismo quase atávico com o que convivia todos esses dias. Foi feliz como se aquela fresca água de rio trouxesse de volta aquele mundo.

                                                                                                                                       e II

imprimir como tatuagem na pele a sensação de limpeza e renovação do banho. O rio entrou em mim além da carne. Um sentimento de eternidade alaga-me ao mesmo tempo que a água. Quero guardar essa lembrança impressa no corpo. Recorrer a ela cada vez que a rotina me atrapalhe, cada vez que o mundo bata em mim com a sua estúpida distorção dos valores. Cada vez que a vida se empenhe em esquecer a beleza.

 

23/08/2015

Transitar polas rotinas com a percepção da distância. Aquela velha cissão da menina voltando em cada lembrança. A dúvida. Sentir que talvez a essência da tua vida seja esse incomodo. Esse estar num lugar querendo estar noutro pra ir a esse outro querendo estar no primeiro. Talvez a motivação primigénia seja o desconforto.

 


Laila_lilas às 19:12

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