É mesmo fácil deixar-te cair no fundo. Que a nostalgia e a tristeza te arraste até assinar actos com os que não concordas. Ficar mais no fundo ainda quando és consciente da velocidade da caída. Ter pena de ti. Ter vergonha de ti. Deitar a culpa na lua cheia, na pressão atmosférica... E ser consciente do apertada que voltas ter a mão, segurando com força algo que apenas é possível segurar se deixares solto. É por isso que consegues abrir a mão aos poucos e subir de novo, olhando para o abismo, acreditando que é igual de fácil estar na cima que no fundo. Escolhes a cima.
Levo a cabeça adiantada. Sempre 15 minutos por diante da vida. Ou 15 dias. Um relógio desajustado é sempre uma máquina assustadora. Não se deve brincar com o tempo. Trato de ajustar a hora com um esforço de herói antigo. Mas já se sabe, os relojoeiros advirtem: as agulhas do relógio só podem avançar. Assim, condenada a levar a cabeça adiantada enfrento a vida.
Sintaxe do amor impossível: erro por falta de concordância.
O mundo tão grande e tão pequeno, tudo na mesma vez. Pequeno de mais para estar no mesmo dia em dous mundos, dous climas, dous cheiros, dous (milhons) de emoções diferentes. Um mundo tão grande que cria um abismo impraticável aqui ao meu lado, no mais perto, no coração. Um abismo que causa enjoo só de olhá-lo. A beira desse abismo é mole de mais, podes pisar em qualquer momento e esbarrar, ficar do lado do nada. Do lado em que nada vale, em que ninguém vale.