Se os exames se fizessem sobre as matérias certas estariamos todas reprovadas. O que se passa é que os exames são sobre cousas absurdas como o Cid Campeador ou o seno e o coseno. O que se passa é que só nos perguntam se há quatrocentos e tantos anos se descobriu o que... Há que começar a mudar a dimensão da tragédia.
Pintas uma risca nas pálpebras, passas com carinho a escova do cabelo, reparas um pêlo mal depilado que teima por saír. Duvidas diante do guardarroupas uns minutos, demoras em decidir que é que combina bem com o teu dia, com o teu ânimo. No espelho afalagaste, diste o fermosa que estás hoje, o bem que levas os anos que figeche não há muito, o bem que levas a tristeza e esse amor a apodrecer e fazer pouso. Por se isto não chegar sobes encima duns sapatos de saltos comprados especificamente para uma situação assim. Sais à rua.
Como não dá certo, compras um maço de tabaco e procuras-te uma cortina de fumo.
Permitide-me esta excepção roubada de dous sítios diferentes:
O Professor está sempre errado.
O material escolar mais barato que existe na praça é o professor!
(JôSoares)
É jovem, não tem experiência.
É velho, está superado.
Não tem automóvel, é um pobre coitado.
Tem automóvel, chora de "barriga cheia'.
Fala em voz alta, vive gritando.
Fala em tom normal, ninguém escuta.
Não falta ao colégio, é um 'caxias'.
Precisa faltar, é um 'turista'.
Conversa com os outros professores, está 'malhando' os alunos.
Não conversa, é um desligado.
Dá muita matéria, não tem dó do aluno.
Dá pouca matéria, não prepara os alunos.
Brinca com a turma, é metido a engraçado.
Não brinca com a turma, é um chato.
Chama a atenção, é um grosso.
Não chama a atenção, não sabe se impor.
A prova é longa, não dá tempo.
A prova é curta, tira as chances do aluno.
Escreve muito, não explica.
Explica muito, o caderno não tem nada.
Fala correctamente, ninguém entende.
Fala a 'língua' do aluno, não tem vocabulário.
Exige, é rude.
Elogia, é debochado.
O aluno é reprovado, é perseguição.
O aluno é aprovado, deu 'mole'.
É o professor está sempre errado, mas, se conseguiu ler até aqui, agradeça a ele.
(Fonte - Revista do Professor de Matemática, no.36,1998.)
E falando em agradecer:
filosofia da mobília
a esta princesa chega-lhe uma enxerga e faz um retiro
[oferece-lhe também a aristocrata ervilha]
a esta guerreira basta-lhe um sofá e constrói um descanso
a esta ratinha abondam-lhe duas estantes e rilhas nos livros
rilha que rilha
a esta branca de neve dá-lhe um espelho e revela-se ilimitada
eis a mobília necessária para imaginar um paraíso.
Susana Sánchez Arins, (De)construçom.