Há conhecimentos certos e inexplicáveis. São verdades absolutas que não se podem demostar empiricamente.
Um dia, na rotina geral dos dias sentes uma variação. Pode ser apenas um silêncio mais longo do habitual, uma olhada que se sostém uns segundos mais que a anterior, a sombra duma lágrima, uma mão que afasta no ár um insecto que não existe. Há multitude de sinais quase imperceptíveis que chegam a ti e são a verdade universal.
Às vezes dá-che medo conhecer a verdade. Esse insecto que não existe e a mão teima em afastar. Existe uma clarividência assustadora nas pequenas e imperceptíveis variações dos dias. Agarraste a ela porque é a única verdade inamovível.
"A vida é um erro cheio de cousas maravilhosas -a amizade, o amor-, mas um erro. Ir da inexistência à inexistência é um assunto estranho, não é? E isto a mim não parece metafísica. São factos. Ao fim percebes que a vida é um curso preparatório para a morte. Um aprende a conviver com o medo. Já que é um erro vamos atravessá-la da forma mais consciente possível, aproveitando as cousas boas e lutando contra as injustiças."
(desculpai a ousadia da tradução)
O deslocamento como terapia. Funciona no imediato, afastas a cabeça do centro do problema e o problema desaparece.
Lástima que já tenhas lido a Kavafis, que os seus versos te devolvam à realidade, e a realidade volte ao teu cérebro. A fantasia do deslocamento desaparece e voltas a estar sem cura.
Não há exílio possível mas que o exílio interior.