Há que ser muito inteligente para ser feliz. Não é preciso conhecer teoremas, nem compreender ponto por ponto a lei da gravitação universal. A inteligência da que falo é outra mais difícil, é a de olhar para dentro e reconhecer-se, nos passos cara a diante e também nos retrocessos. Recorrer os caminhos com seguridade embora não levem ao paraíso, ou melhor, recorrer os paraísos com seguridade ainda que não levem aos caminhos. É precisa muita inteligência para ser feliz.
Está fermosa, com esse algo de magia que sempre, cheia ou não, se mete nas veias para que vires um bocado doida. Mais que outros dias.
En el aire conmovido
mueve la luna sus brazos
y enseña, lúbrica y pura,
sus senos de duro estaño
Na minha casa há também algo de comovente, talvez o prato da ceia abandonado no chão ao lado do computador onde tento... Se soubesse o que tento nom precisaria este teclado, nem um ecrã a cores esperando-me. Sim, virar um bocado doida, com o peso dos dias sobre as costas, e essa estranha certeza, essa estranha seguridade. És neste momento mais tu que tu mesma, que qualquer outro dia em que também és tu. Desde as gemas dos dedos que premem as teclas até o pé direito fazendo força sobre o pé esquerdo. Algum dos dous ficará dormido.
Não há música, nada pode acompanhar esta noite perfeita. Nem tu. Nada deveria existir esta noite.
Sempre tão distante do importante. Urgência. Todo para antes de ontem, todo no mesmo mês e com o mesmo sentido: nenhum. Entretanto o importante espera. Fazendo oco no cérebro, pinga a pinga. Deixando orfo o coração.