Passo de não conhecer uma palavra a escutá-la três vezes por segundo, será um sinal?
O mais provável é que sim, que a repetição de algo até o de agora desconhecido está a me dar muita informação. E o melhor de tudo: que o projecto de melhora pessoal se mede da maneira que eu gosto, com objectivos pequeninos e alcançáveis.
Também o projecto de melhora do mundo tem a mesma medida, se hoje consigo que uma mentira seja descoberta, o objectivo está conseguido. Faz falta apenas ler um jornal :-).
Uma chuva dum simbolismo quase divino, não é o dilúvio universal mas assemelha-se. Arrasta tudo por onde passa e uma, com a sua nova ou renovada esperança, confia em que leve o detrito, o despojo do mundo. Polo menos, o despojo do seu mundo.
Quando retorne o sol estarei pronta.
deste lado da história, as heroicidades são a escala 1:1.000.000. Nada de conquistar territórios novos, de perder a cabeça na guilhotina por ter sabedoria e genitais femininos ao mesmo tempo, nem sequer dous ou três dias na cadeia por contrariar um poder qualquer. Hoje as heroicidades são diminutas. Sugerir em voz baixinha que nos vestiários femininos estava bem que escrevessem os cartaces em feminino, que não se note que estás incomodada, apenas sorrir e desculpar-te porque ousas pedir uma mudança. De tamanho minúsculo. Pedir quase desculpas porque dis às tuas amigas que o mundo em que moras não é o que che contam, desculpa que te contrarie, não faças muito caso, mas se calhar as cousas sucederam doutra maneira e isso em que acreditamos talvez seja mentira.
Tudo escrito em minúscula e dito em voz baixa. Para que nada do que somos seja banido, que é o mesmo que dizer, para que nada do que temos seja banido.
Cada página deste diário é efémera, tem a mesma permanência que o alento... segundos, décimas de segundo. Cada fragmento é literatura. Embora seja a minha vida. Talvez é que literatura e vida são uma e a mesma. Talvez seja que é um diário, pessoal, e como diário e pessoal não deve estar aqui, sem pudor, ao público. Mas que vou fazer agora? Talvez o melhor seja voltar à tradição, ao papel, e deixar encarregado às amigas que seja destruído depois da morte (porque já se sabe, uma não vai nunca destruir a sua obra, o ego não permite...). Talvez.