A felicidade é uma construição diária. Não chega apenas com dizer, já está, sou feliz... Dia após dia, um esforço. Há dias que sai natural, que o Sol é muito e nutritivo, que a primavera já fez a metade do trabalho, que a música soa mais alta e mais energética, que as costas estão direitas e não precisas exercício nenhum. Mas outros dias... É um trabalho. Atirar o pé da cama sabendo que cada gesto vai significar um esforço, fazer o pequeno-almoço um esforço, fechar a porta um esforço, acender a rádio um esforço, tomar duche um esforço, subir as escadas um esforço. É nesses dias em que precisas lembrar a tua imensa fortuna, repetir-te que estás no lado bom e não há nada que não podas agradecer, sorrir diante do espelho porque sabes que o riso te constroi. Assim construída, com a felicidade como um doce que levas no peto disposto para qualquer momento, disponível. Essa é a tua tarefa diária.
"un pasito p´alante maría, un pasito pa´tras"
Assim é a coreografia do mundo, um passo para diante e outro para atrás. Embora os revolucionários recomendassem que para trás nem para colher impulso. A coreografia do mundo é lenta e impredecível, nom se sabe cara onde vai e apenas podes aprezar a beleza, a estética, o sublime... Impredecível, indefinida.
Às vezes é melhor que todos os passos sejam para trás, se afinal, não é importante a direcção cara onde vaias mas sim o que há na meta. Para diante para alcançar o quê? Que outra riqueza incalculável, que outro progresso, que outra máquina recém inventada para eliminar uma mais das actividades humanas? Não, os passos cara diante não sempre são bons. Às vezes é melhor ficar parada, quieta, no lugar em que estás, sem ambição. Às vezes é melhor ir cara atrás e procurar um lugar incorrupto, uma soidade menos barulhenta, uma integridade irrompível.
O mundo doe-me quando avança e não quero ser partícipe dessa dor. Não sei se tenho possibilidades.
Um passo cara diante e outro cara atrás, hoje, escolho cara atrás.