E quando consegues soltar o medo, abandoná-lo, andas pisando ovos. Medindo o peso, com prudência. Como uma funambulista principiante neste circo, o da vida, muito mais surrealista e decadente que qualquer outro. Mas com o equilíbrio das amigas e do amor. Duas das cousas verdadeiramente importantes.
Agarras-te ao que tens a mão. Lástima que neste momento apenas tenhas o medo. Por isso agarras-te a ele e confias em que é melhor isso que nada. Nem sequer és consciente da descrição do medo, de que rosto tem, de a que parte do teu corpo ataca. Porque tens algo a que agarrar-te.
Esqueces que não é necessário.
Lendo a Alba Rico, tudo me parece excesivamente superficial. A minha vida: superficial, a minha dor: superficial, a minha literatura: superficial... Tudo terrívelmente banal, sem importância. Mas pode que também necessário. Necessária para a sobrevivência a minha dor, a minha literatura. Necessário ser humanos e deixar-se caer e levantar, arranhar felicidade das pequenas cousas quando as grandes se empenham em ir mal. Ler filósofos que nos dão a exacta medida da nossa superficialidade, e saber que é necessária.
Todo o que palpita é necessário.
E que rápidas são as debilidades. Ainda bom que eu sou forte.
Visitá-los apenas para que che digam o que não queres saber. Para confirmar-te que tens medo a... A quem lhe importa? Enganaste com absoluto conhecimento de causa, consciente de qual é a mentira que precisas em cada momento. Como agora, que sabes que o correcto é abandonar. E abandonas. Até a próxima debilidade.